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domingo, 12 de julho de 2020

Mimesis a partir de referenciais do corpo


“Me vejo no que vejo
como entrar por meus olhos
em um olho mais límpido
me olha o que eu olho
é minha criação
isto que vejo
perceber é conceber
águas de pensamento
sou criatura
do que vejo.”

Octavio Paz

O trabalho com a base do corpo (pés) já contém um primeiro apontamento para criação de personagem. Isto em maior ou menor grau pode ser trabalho para construção de personagem desde o naturalismo (alteração menor com apoio da respiração) até outras estéticas inclusive corpos cômicos. Observa-se no corpo o grande potencial cômico durante o simples trabalho de caminhar com borda externa ou interna dos pés. Penso que isso é apenas a base e que outras partes do corpo podem ser mobilizadas num trabalho de pequenas alterações de eixo e peso que sejam capazes de orientar a criação de personagens e tipos (bêbado, por exemplo). Mas a base é um ponto muito importante neste tipo de trabalho. Como o corpo pode ir se alterando fisicamente e criando signos que podem dar conta de uma caracterização física. A escuta sensível destas alterações corporais é fundamental, pois pequenas alterações, podem dar conta de revelar de uma postura corporal que indique arrogância, humildade, timidez etc. e é importante que estas atitudes sejam conscientes.

 Lembramos do referencial trabalho do LUME de campinas e seu trabalho de mimesis corpórea que dialoga com o trabalho de Decroux. A Técnica Klauss Vianna é um caminho para se trabalhar este trabalho imitativo do corpo. Este trabalho me prova que não tenho trabalhado algumas bases como braços, por exemplo, que estão muito fracos e penso que a participação deles é fundamental para a capacidade de realizar certos movimentos fora do cotidiano. Por exemplo, dançar ou sustentar o corpo em pausa em cena. A distribuição do peso é uma pesquisa importante.

Relembro que a muitas pessoas recorrem à musculação para atingir um melhor desempenho de força e muitas vezes já fui advertido que a musculação pode travar alguns músculos barrando o fluxo e reduzindo o repertório de movimentos. Nesta perspectiva começo a entender a importância e o valor que esta pesquisa com peso pode ter nas artes do corpo. No contexto de um espetáculo ou apresentação estar presente sem necessariamente estar falando por exemplo. O domínio de peso e partituras nos auxilia nisso.  

Podemos pensar possibilidades de representação a partir da noção de percepção e estabeleço um diálogo direto com esta pesquisa prática com mimese corpórea. Alain Berthoz defende a incapacidade do corpo humano de repetir, problematizando a capacidade de representação. Neste sentido os estudos do corpo que temos feito provoca toda esta onda de discussões que invade o campo das artes no que diz respeito à representação, presentação e a emergência das artes chamadas “performativas”.

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