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quinta-feira, 3 de junho de 2010

CURITIBA 2010

O teatro Brasileiro finalmente começa a seguir as tendências mundiais rompendo com as formas canônicas de dramaturgia. A perspectiva aristotélica com uso de trama, dramaturgia textual fechada, personagens, desenlace e causalidade estão substituídos por outras estruturas de organização (uso de leitmotiv, sincronicidade, aleatoriedade e linguagens irracionais). Grandes nomes da cena mundial como Bob Wilson, Pina Bausch entre tantos outros já se utilizam destes procedimentos há décadas a tendência da arte contemporânea é de, a partir do caos, encontrar nos trabalhos a autoria e a hibridização de fontes e linguagens.
A linguagem da performance invade o meio teatral com proposições arrojadas nas quais a hierarquia do ator e do diretor acima das áreas chamadas técnicas cai por terra. O teatro torna-se cada vez mais um campo fértil e democrático para o desenvolvimento da dramaturgia da cenografia, da luz, da trilha sonora etc.
Hoje no Brasil grandes nomes, muitos deles se apresentaram no festival de cutitiba, estão absorvidos por essas correntes que numa simplificação visam encontrar dramaturgia em outras vias. O jovem Leonardo Moreira, por exemplo, demonstra em seus dois trabalhos recentes: Cachorro Morto e Escuro, duas possibilidades de fazer teatro para além do modo “convencional”: texto, personagens, trama... No primeiro o roteiro foi inspirado em três livros: o inglês The Curious Incident of the Dog in the Night-time, de Mark Haddon; A Música dos Números Primos, de Marcus du Sautoy; e Nascido Num Dia Azul, do autor Daniel Tammet. O espetáculo parte de um motivo que é propor ao espectador a reflexão sobre um outro raciocínio lógico e outras relações afetivas e os textos aparecem para suprir a proposta deste motivo original. Com o segundo, Escuro o mote é a proposição da limitação de linguagem e novas formas de apreensão do mundo sob a perspectiva da deficiência. Os procedimentos de Moreira aqui, inclusive, aproximam-se das pesquisas empreendidas por Bob Wilson com uso de simultaneidade e repetição.