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domingo, 23 de outubro de 2011

THÉÂTRE DU SOLEIL NO BRASIL

A presença do grupo Théâtre Du Soleil no Brasil é sempre um evento curioso que dá pistas sobre o que tem sido valorizado e desvalorizado no teatro, coloca em cheque algumas convicções, para alguns reforça certo ideal de prática artística, para outros abre uma gama enorme de novos questionamentos. Tudo chama atenção não só no grupo, mas na recepção: A mobilização da classe artística, a dificuldade na obtenção de um ingresso, a duração dos espetáculos, os meios e modos de produção do grupo etc.

A expectativa começa semanas antes do inicio da venda dos ingressos que esgotam em menos de duas horas. Este não é um fato isolado, outras companhias de peso internacional e mesmo nacional também tem ingressos esgotados muito rapidamente, o que nos faz refletir sobre a idéia de “crise do teatro”. Se fazer espetáculos para a classe artística incomoda a muitos grupos, é importante considerar que a chamada “classe artística” vem aumentado muito, ao ponto de lotar uma tenda de mais de cem lugares dezenas de vezes. A crise parece apontar então para uma transformação do público que deixa de ter interesse em ser apenas espectador, é iniciado na prática teatral. Não há carência de público, portanto, há uma mudança de características do mesmo.

A noticia de que tal companhia é composta por artistas de todas as partes do mundo que ensaiam um mesmo espetáculo ao longo de cinco a dez meses, cinco vezes por semana, dez horas por dia também desperta grande comoção. O “público” brasileiro dá indícios de estar especialmente interessado em investigar o modelo bem sucedido em todos os seus aspectos e esferas de realização. Há uma impressão geral de se estar diante das condições ideais de se produzir espetáculos e praticar teatro, muitas vezes sonhado e inatingível para os padrões brasileiros. Afinal quais são os grupos em nosso pais que podem garantir a previdência de seus atores, salários, repouso remunerado, sede própria, alimentação no local etc.? Pensando sob esta perspectiva, é possível até aumentarmos nosso grau de exigência e expectativa diante de um espetáculo teatral feitos sob tais condições. O centro de pesquisa e residência artística liderado por Mnouchquine assume-se declaradamente como um projeto de caráter social e político pra o desenvolvimento das artes cênicas que extrapola questões estéticas.

O que Ariane Mnouchquine nos oferece, enfim, é um espetáculo de quatro horas de duração – que para muitos espectadores "treinados" torna-se bem cansativo. “Les naufragés du Fol Espoir (Aurores)” é Inspirada pelo romance póstumo “Os náufragos do Jonathan”, de Julio Verne, a dramaturgia é assinada por Hélène Cixous e a trilha sonora original é executada ao vivo pelo músico e compositor Jean-Jacques Lemêtre. O espetáculo é ambientado em 1914, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Em cena, uma trupe fascinada pelo advento do cinematógrafo se aperta no sótão de um cabaré para rodar um filme. O filme dentro da peça que remete a um procedimento bastante reproduzido em centenas de espetáculos contemporâneos, retrata a história de emigrantes que, no final do século XIX, deixam o País de Gales rumo à Austrália, mas encalham na Terra do Fogo, onde tentam forjar uma comunidade socialista. O enredo aponta claramente, portanto, ao projeto artístico do grupo que se não surpreende no conteúdo, hipnotiza na forma, na orquestração das cenas no palco, no engajamento de todos os interpretes na composição de uma cena que dialoga com praticamente tudo o que se discute atualmente no teatro.

As produções do Téâtre Du Soleil são o resultado de uma combinação atípica, quase paradoxal, dos modelos de processo criativo tão discutidos atualmente. Por um lado a premissa do envolvimento de todos os integrantes da companhia em todas as etapas de criação. Assim, cada montagem é concebida por meio da contribuição de cada um dos artistas participantes, a partir de seus universos culturais específicos. Por outro a orquestração e a palavra final da diretora. Há uma mescla, portanto, de procedimentos identificados naquilo o que se cunha processo colaborativo e a direção autocrática.


Os Náufragos da Louca Esperança (Auroras) –
Théâtre du Soleil (França)
SESC Belenzinho - 05 a 23 de outubro – Quarta a domingo 19hs
Classificação 12 anos
www.sescsp.org.br/osnaufragosdaloucaesperanca

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mantenha Fora do Alcance de Crianças




Começando o horário de verão 2011 a [pH2]: estado de teatro volta com mais uma temporada do espetáculo.
O calor toma conta do ambiente. A ausência de copos em um encontro familiar traz a tona o passado esquecido. Duas figuras passam a entrar em conflito permanente. Em meio a tanta histeria, os outros habitantes comemoram a chegada de mais um verão.

Direção: Rodrigo Batista
Elenco: Bruno Caetano, Bruno Moreno, Catarina São Martinho, Júlia Moretti, Júlio Barga, Leonardo D'Aquino, Maria Emília Faganello, Mariana Soutto Mayor
De 12 a 27/10 no Teatro João Caetano
Rua Borges Lagoa, 650 (Próximo ao metrô Santa Cruz)
Quartas e Quintas, às 21h
Ingressos a R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia entrada)
ingressorapido.com.br

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A ATIVIDADE TEATRAL EM PERSPECTIVA

O que o termo crise define é na maioria das vezes transformação, o que não significa em última análise estar maior o menor em relação ao estado anterior. O teatro tem passado por uma série de transformações. O advento da TV, do cinema e da internet (os dois primeiros dão um salto em relação ao trabalho da representação) obriga-o a acomodar-se no outro espaço. A atuação performática e as novas formas de dramaturgia (vide relatório anterior) são fortes indícios deste trabalho de acomodação sofrido pelo teatro que já não cumpre tão bem a função de lugar de representar, mas sim de lugar de atuar, de viver uma experiência e compartilhá-la. Nesta perspectiva explica-se o aumento do número de praticantes de teatro e diminuição no número de expectadores. Para ver uma história ser contada recorre-se ao cinema, para vivenciar uma experiência coletiva com contatos entre pessoas recorre-se ao teatro. Novamente reforço o fator transformação e critico o termo crise. Este movimento de aumento de atores e diminuição de expectadores faz crescer a demanda por escolas de teatro, pesquisas e trabalhos na área de pedagogia teatral, ou seja a atividade teatral cresce em alguns setores e diminui em outros. O que pode estar ocorrendo é um retorno do teatro a sua natureza primordial de celebração, rito e encontro. Cabe salientar ainda, que os novos praticantes de teatro são também os grupos que irão assistir teatro, assim, mesmo a crise como redução de público do teatro é relativa. O teatro torna-se uma prática social exercida por uma poderosa parcela de pessoas engajadas nas mais diversas motivações pessoais, entre tantas outras: Ampliar o horizonte cultural, socializar-se, vencer bloqueios emocionais e psicológicos, pesquisar temas e linguagens diversos, estabelecer contato interpessoal, viver uma experiência não cotidiana etc. 

Exercícios de reflexão a partir da leitura e discussão do texto: GUENOUM, Denis. O teatro é necessário? São Paulo, Perspectiva.  Atividade proposta por Rodolfo Garcia Vazquez em aula do curso de ATUAÇÃO da SP ESCOLA DE TEATRO - 1º Semestre de 2010