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segunda-feira, 31 de março de 2008

Diálogo inútil do Abismo com a queda

A Cia de Orquestração Cênica está em cartaz no Espaço dos Satyros em São Paulo com o espetáculo Diálogo inútil do Abismo com a queda. Com texto e direção de César Ribeiro e inspirado na obra de Beckett, o espetáculo produz uma síntese do que há de mais característico na obra do grande dramaturgo europeu: O impasse, a espera, a ação elástica que não se realiza, tarda, se estende, se comprime...

Se as personagens de Beckett são, por natureza, fragmentadas e herméticas, nesta montagem nos deparamos com um agravante: A caracterização clownesca não ocorre de um modo muito claro. Há um tom de falsete na voz dos atores que, por vezes, provoca um grande distanciamento entre estes e as personagem. Os atores “patinam” entre a observando e a “ação” aqui tomada na dimensão mais Becketiana possível. O clown auto-centrado, insuficiente, instintivo oprimido pela prisão ao instante do qual está deslocado estão muito mais materializados pelas imagens e sugestões do autor que inspirou o espetáculo do que da interpretação propriamente dita, a qual, não parece querer fixar estes traços conforme tem sido feito tradicionalmente com as peças de Beckett numa intensa busca do instante, da supressão do tempo. Diferentemente do que ocorre em Esperando Godot onde as personagens não têm passado, em Diálogo inútil do Abismo com a queda elas estão em relação direta de resgate e resignificação de seus passados. Assim como os clows - essa linguagem é sugestão do próprio Beckett que era apaixonado por esse universo - outro elemento que parece vir muito mais da característica becketiana de montagem é a utilização a linguagem de cartuns e HQs proposta pela encenação, a seqüência de imagens é bem definida mas não se diferencia da estética de outras montagens recentes como Esperando Godot de Gabriel Villela e Fim de Partida de René Piazentin que também utilizam a limpeza cênica, quadros fotográficos, porém, clowns muito mais coesos.

No processo de Esperando Godot de Gabriel Vilela que ficou em cartaz no SESC em 2006, as atrizes tiveram aulas de máscaras neutra com a Profa. Dra. Maria Thais. Foi realizado um intenso trabalho de corpo, dando enfoque ao deslocamento arquetípico do homem sobre a terra. Para Gabriel Villela, Samuel Beckett é a síntese e a crônica da humanidade no mundo pós-guerra. Esperando Godot enfatiza o extremo das relações humanas ilustrado na convivência de Vladimir e Estragon que passam todo o espetáculo aguardando a chegada de uma terceira personagem capaz de atribuir algum significado para as suas existências, Godot. A peça atinge uma genialidade absurda e comovente ao mostrar aos espectadores que a vida pode ser apenas a iminência de... De que? A busca incessante pela mudança que nunca ocorre. É um texto que esvazia algo que é fundamental para o teatro: a ação. Em Esperando Godot simplesmente não existe ação. O próprio diálogo foi esvaziado. A fala dos personagens não evolui para o encerramento de um conflito dramático serve apenas como uma bengala para mostrar o raciocínio tortuoso dos dois principais personagens. A angústia desta obra reside no fato de que os elementos inicialmente leves, engraçados e atrapalhados não se resolvem no final. A peça se abre para uma violenta e profundamente filosófica comparação com a vida.

Uma possibilidade que parece ser aberta na montagem de Diálogo inútil do Abismo com a queda, é a de aumentar a autonomia dos encenadores diante deste dramaturgo sobre o qual tantos clichês de encenação e interpretação se acumulam. É necessário deformar mais a obra, “degluti-lo, mastigá-lo”, fugir dos modelos tradicionais de montagem de um autor que jamais demonstrou apego ao tradicional.
Provavelmente a peça de Beckett que mais apresenta paralelos com a montagem em cartaz no Satyros é Fim de Partida que para muitos é sua realização mais bem acabada. A obra trata da solidão e da impotência humana. Num cenário apocalíptico de um mundo em destroços, os personagens jogam com o desespero e o riso amargo. O texto que transita em o trágico e o cômico tem peso de ironia e personagens densas. Seu nível de truncamento impede que fáceis conclusões a respeito sejam extraídas. Há ideologia em Beckett? É possível encontrar chaves simbólicas nos diálogos estropiados entre Hamm, misto fracassado de ditador e artista frustrado, e Clov, seu serviçal. Os aleijões de Beckett que também aparecem em Diálogo inútil... representariam uma síntese contra a sociedade moderna?

Assim como em Fim de Partida, não temos em Diálogo Inútil... uma sinopse muito extensa, ao contrário. A peça narra a história de um casal de velhos juntos a 350 anos que voltaram ao local em que se casaram para se separar. O silêncio, como na primeira, impera nos pontos altos do espetáculo que, também atipicamente, possui trilha sonora e iluminação que fogem à tradição das montagens de Beckett. Ocasionalmente aparece a figura do mutilado que vive dentro de uma espécie de lata de lixo. Os três apresentam dificuldades físicas com deformidades causadas pela idade ou pela mutilação. A poderosa extensão das micro-ações em longos jogos de cena é o ponto forte do espetáculo. O público não se cansa e fica marcada a força cênica do absurdo. É justamente a marca econômica de Beckett que o fez se distinguir de seus contemporâneos e conterrâneos geniais James Joyce e Marcel Proust com seus intermináveis Ulisses e Em busca do tempo perdido, respectivamente. No fim da vida, Beckett foi compondo peças cada vez menores com recursos cênicos e verbais mínimos. Os personagens, eles próprios fragmentos, repetem gestos automatizados falam com clichês e pedaços de frase, contam pedaços de histórias que não se resolvem nem apontam um sentido. Assistir Beckett é sempre um exercício necessário de angústia e inquietação.

Serviço:
Espaço dos Satyros I
De 20/03 a 05/06 quintas às 22h30
R$10,00 a R$20,00(11)3258-6345
http://ciadeorquestracaocenica.zip.net/

segunda-feira, 17 de março de 2008

AMOR QUE É DE MENTIRA...

... Ou mentira que é de amor? Reestréia em São Paulo com a Cia dos Ditos Cujos. O grupo que visa um teatro que ultrapasse fronteiras etárias constrói um espetáculo rico em imagens poéticas acerca do tema amoroso sob diversos motes: O casal, a infãncia, a velhice, a bricadeira, os clichês, a inocência. Tudo estruturados em quadros que podem ser lidos soba a perspectiva dos públicos infantil, jovem e adulto, cada qual atribuindo significados e relações diversas com o espetáculo. Acompanha as cenas uma rica trilha sonora executada ao vivo.

15/03 a 27/04 sabados e domingos às 16h30 - Teatro Martins Penna - Largo do Rosário, 20 Penha - 2293 6630.

sexta-feira, 14 de março de 2008

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