“Uma palavra de madeira cai no chão.
Caixão, dessa maneira”
Marisa Monte/Arnado Antunes/Arto Lindsay
No trabalho com o corpo, os pés (base do
corpo) são sempre o início. Já constatamos. Tenho falado sobre a potencialidade
expressiva do corpo a partir de alterações nesta base. Os pés podem ser,
também, o apontamento inicial para o trabalho vocal. O corpo “apoiado” propicia
a dilatação que influencia na potencia e na expressividade vocal. Em meu
percurso de formação como ator, já vivenciei pesquisas práticas que
relacionavam corpo e voz. A começar pela base, o apoio no calcanhar ou nos
dedos associado à possibilidades de emissão de sons agudos ou graves. Retomo
uma fala de Isabel Setti, diretora e professora de voz, sobre a experiência da
palavra que parece dialogar diretamente com nossas investigações sobre
presença:
Apoios, dilatação dos espaços internos,
tridimensionalidade. Fluxos de energia, direcionamento do sopro,
sonoridade das vogais, precisão das consoantes. A boca, seus espaços, sua mobilidade. Flexibilidade
e plasticidade da articulação. Apropriação da palavra e das ideias. Ressonância.
Assertividade. Presença: uma espacialidade dentro de outra
espacialidade; uma espacialidade gerando e conectando espacialidades. Identificação do sujeito que fala à
coisa dita.
Necessidade. Urgência. Escuta ativa: maturar a palavra no silêncio. Deixar-se
tocar por seu corpo vivo. Instinto. Relação do intérprete com as poéticas de seu mundo.
Testemunho. (SETTI,: 2007, 31).
Não podemos separar experiências
anteriores e atuais, teoria e prática etc. Do mesmo modo interessa relacionar trabalho
corporal e o trabalho vocal, na medida em que, sabemos, corpo e voz não se
dissociam. Assim, na prática corporal os sons são bem-vindos. Noto a armadilha
de emitirmos sons “artificiais”, que não são respostas orgânicas ao movimento
realizado, portanto, não nos colocam em estado de descoberta. Interesso-me e
busco manifestações sonoras que estão perfeitamente integradas ao movimento
realizado.
O chão é um grande
parceiro no trabalho de criação e exploração da partitura. Este é um trabalho
de pesquisa muito raro, muitas vezes em trabalhos de montagem de espetáculo ou
outros trabalhos de ator a etapa de investigação de partituras é reduzida ou
mesmo suprimida. O trabalho com partituras e o entendimento dos apoios e
direcionamentos ajudam a entender o trabalho do ator em contexto diferentes do
palco. Por exemplo, durante a gravação de conteúdos audiovisuais. A ação física
do ator pode ser entendida como partitura e o trabalho com o direcionamento do
peso auxilia na resistência e manutenção de horas de trabalho incessantes
repetindo takes iguais.