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sábado, 6 de junho de 2020

Fragmentos sobre corpo na arte: Breves reflexões a partir da teoria Corpo-midia de Greiner



“Corpo como plataforma semântica do mundo” Cris Greiner.

     No livro “O corpo”, Cris Greiner lança o conceito de corpo-mídia. As relações de corpo como casa, anatomia, instrumento, matéria ou expressão é provocada e posta em movimento pela idéia de corpo-midia. Corpo não é abrigo, corpo “é” (Como artista e ateu gosto desta idéia). O corpo tem autonomia e está em relação de troca com o ambiente. Muitas referencias teóricas são evocadas desde Darwin a Foucault (biopolítica) passando por Deleuze, Merleau Ponti (filosofia da carne), Nietzsche, Espinoza (corpo em relação) e Artaud (corpo sem órgãos). A proposta é organizar um conhecimento a partir do corpo e não sob a perspectiva de disciplinas como estamos acostumados a fazer (pistas para estudos INDISCIPLINARES). A proposição de novas metáforas para corpo, novos vocabulários como uma forma de sair de velhos quadros de referencia. Diante deste turbilhão de ideias penso que a teoria corpo-midia me ajuda como artista, pois é neste terreno que quero desestabilizar algumas tendências, entretanto, na vida ordinária, fora da arte, tenho dificuldade de pensar o corpo com esta autonomia, na vida sempre estou pensando corpo a partir da sociologia, da saúde, da cultura etc.

1) A arte irá desestabilizar a noção de corpo. Para Kant a arte como beleza é um dom de poucos. Esta ideia choca-se com a proposição de corpo-midia. O Corpo-midia: Nunca está pronto, sempre se modifica, sempre instável, sempre em fluxo. Nietzsche irá questionar Kant em relação a esta ideia de beleza e dom. Construo um quadro de referencias em que penso dois grupos: De um lado ‘Aristóteles, mimese, Kant, Ilusão, Ferreira Gullar’ e de outro ‘Nietzsche, performance, estética do real, Duchamp, corpo-midia’.

2) Como lidar com o rastro de uma formação tradicional? Como arte é pensada de forma tão diversa e muitas vezes refém de instituições (escola, TV etc.)? Penso no conceito de socrático de maiêutica como uma chave para o dilema da formação de um artista e dos debates sobre corpo-mídia. A Maiêutica tem como significado "Dar a luz (Parto intelectual)” procurando a verdade no interior do ser humano. Sócrates conduzia este processo levando os interlocutores a duvidar de seu próprio conhecimento a respeito de um determinado assunto para, em seguida, conceber por si mesmo uma nova ideia, uma nova opinião sobre o assunto em questão. Por meio de questões simples, inseridas dentro de um contexto determinado, a Maiêutica dá à luz ideias complexas. A maiêutica baseia-se na ideia de que o conhecimento é latente na mente de todo ser humano, podendo ser encontrado pelas respostas a perguntas propostas de forma perspicaz.

3) A informação está na relação entre artista e público e não na obra em si. Só comunicamos/informamos na medida em que surpreendemos, fornecemos algo novo. Pensar que cada público receberá a obra de uma forma a partir de sua própria experiência. Relaciono isto com minha formação em linguística. Em semântica temos que um sistema de comunicação produz sentidos a partir de operações de diferença. Ao pensar Corpo Artista: Não importa “o que” mas o “como”.

4) Função evolutiva da Arte: A arte possui função evolutiva e mobilização do sistema límbico (sentidos, sentimentos e sensações como prazer e medo). Arte irá acionar o ouvido pelo visual e vice versa. Ou ver e bater no estomago, náusea etc. Arte como renascimento do que morreu passando para o nível simbólico.

5) Arte e memória: Arte a partir da memória do artista. Criação a partir de registros. Memória contaminada pela ficção ou nostalgia. Memória do corpo: História da moça que perdeu a memória mas não esqueceu de como dançava. Lembro-me de treinamentos de qualidades que identifico em meu corpo e no dos outros.

REF: GREINER, Christine. O Corpo: Pistas para Estudos Indisciplinares.

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