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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Três vezes Janô – Para um teatro do ator


O diretor teatral Antonio Januzelli, professor aposentado da ECA/USP, está brindando os seus mais de 40 anos de trabalho dedicados às artes cênicas, em cartaz com três espetáculos pela cidade. Experiente, o teatro de Janô é centrado no ator. Entre os três espetáculos em cartaz “Um segundo e meio”, “Se eu fosse eu” e Da beleza ou o sistema nervoso dos peixes”, subjazem características próprias deste genial diretor. Um cenário zero, iluminação simples e os atores, no coração das encenações, com a coragem extrema de viverem seus personagens com a verdade e a intensidade de quem participa de um jogo decisivo, uma experiência inaugural. Aqui, agora. O palco é a vida. Ao expectador a deliciosa ilusão de que os atores são donos do tempo e do espaço, capazes de suspender a ação e retoma-la com um domínio e uma propriedade jamais vistos.

Algumas das premissas das práticas artísticas de Janô podem ser melhor entendidas a partir da leitura de seu livro A aprendizagem do Ator. Entre suas práticas relacionadas à construção e desenvolvimento de uma pedagogia do ator está a noção de Laboratório Dramático do Ator, em suas palavras:

Porque “laboratório”? Porque lembra operação, corte, incisão, experimentação, curiosidade, exame, toque, transformação, mistura, absorção, separação, ruptura, junção; descoberta de mundos presentes, mas velados. Porque as coisas precisam ser vistas, observadas, tocadas, abertas, inquiridas, relacionadas, multiplicadas... É assim que vejo a vida seja no teatro ou fora dele: Um laboratório de movimento ininterrupto, tal qual a imagem de um corpo humano vivo. JANÔ (1992, p. 50 e 51).

Serviço:

Da beleza ou o sistema nervoso dos peixes – VIGA Espaço Cênico – qui. a sáb. 21hs e dom. 19hs com Alexandre Pieroni Calado. O monólogo sombrio e niilista trás fragmentos de Büchner. O texto de estrutura pesadamente conceitual e argumentativa valoriza-se ao pegar emprestada a verdade do ator que se sobrepõe às “verdades” do texto. Acreditamos nele mais do que no que ele diz.


Se eu fosse eu – Teatro Coletivo Fábrica – Quartas e quintas às 21hs. com Cia. Simples de Teatro. O auto-conhecimento, a arte do encontro e os enigmas de Clarice Lispector. Seu texto Um aprendizado ou o livro dos prazeres inspira o catártico exercício dramático.


Um segundo e meio – SESC Consolação – Quartas às 21hs. Com Marcello Airoldi. A poesia pichada no instante agora: Um espetáculo que parece beber da fonte de Proust para mergulhar num estudo da simultaneidade presente em um segundo e meio. Quanto tempo dura um segundo e meio? O velho hábito de fazer do passado algo mais nobre do que foi de fato é posto em cheque. A poesia dos instantes relembrados redimensionada por eventos simultâneos e nem sempre tão dignos de lembrança: Faltava um dente na boca da prostituta? O choro na verdade era fingido! Enquanto falava cuspia farelos de cream craker...


Para Ler:
JANUZELLI, Antonio. A aprendizagem do ator. 2 ed. São Paulo: Ática, 1992.

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